Agentes do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), órgão interno do Ministério Público do Estado do Pará, encontraram uma coleção de relógios de alto luxo no apartamento alugado pelo prefeito de Ananindeua (PA), Daniel Santos (PSB), nesta terça-feira (5/8), em Fortaleza (CE). Ele foi afastado do cargo por suspeitas de corrupção ativa e passiva, além de fraudes em licitações envolvendo agentes públicos e empresários.
Os objetos foram localizados durante o cumprimento de mandados da operação Operação Hades, deflagrada nesta terça. O valor da coleção de relógios pode chegar a R$ 3 milhões.
Veja itens apreendidos:
O promotor de Justiça Arnaldo Azevedo, disse que cada peça pode valer até R$ 420 mil, embora ainda estejam sendo avaliadas. Não houve apreensão de dinheiro em espécie, mas os relógios somam uma das cifras mais altas entre os itens confiscados na operação.
Além dos artigos de luxo, tratores avaliados em R$ 3 milhões foram localizados na Fazenda Vale do Mesquita, no município de Tomé-Açu, que também está no foco da investigação. Um avião que, segundo o MPPA, está vinculado ao prefeito, não foi localizado no estado durante a operação, e segue sob ordem judicial de apresentação.
A Justiça determinou o bloqueio de aproximadamente R$ 500 milhões em bens dos investigados. O valor inclui imóveis, veículos, aeronaves e embarcações. Os maiores bloqueios individuais foram:
- Daniel Santos (prefeito): R$ 131,85 milhões
- Danillo da Silva Linhares (empresário): R$ 124 milhões
- Manoel Palheta Fernandes (membro da comissão de licitação): R$ 119 milhões
- Paulo Macedo (secretário de Saneamento): R$ 3,27 milhões
Segundo o Ministério Público do Estado do Pará, o bloqueio tem como finalidade garantir o ressarcimento de valores públicos supostamente desviados de Ananindeua.
Operação apura suspeita de corrupção e fraudes
A investigação que deu origem à Operação Hades foi iniciada pelo Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco). O foco está em possíveis fraudes em licitações, corrupção ativa e passiva, e associação entre servidores públicos e empresários.
A operação foi autorizada pelo Tribunal de Justiça do Pará (TJPA), por meio de decisão liminar do desembargador Pedro Sotero, atendendo a pedido do MPPA.
Ao todo, 16 equipes foram mobilizadas para cumprir mandados de busca e apreensão em diferentes locais, incluindo a sede da prefeitura, imóveis no interior do estado e também fora do Pará.
Como o prefeito não estava em seu domicílio oficial, e a residência é compartilhada com uma parlamentar federal, os investigadores optaram por realizar as buscas em outros endereços ligados a ele.
O MPPA informou que a próxima fase da investigação envolve análise de provas e oitivas dos envolvidos. O objetivo é concluir o inquérito com base nos elementos já reunidos e, se for o caso, oferecer denúncia à Justiça. “As provas já são abundantes”, afirmou o promotor Arnaldo Azevedo.
Prefeito contesta afastamento e fala em perseguição
Em nota divulgada nas redes sociais, Daniel Santos criticou o afastamento, classificando a decisão como autoritária e sem direito de defesa prévia. Ele também afirmou que continuará com o projeto de disputar o governo do estado em 2026.
“Essa é uma perseguição política. Sigo pré-candidato e vou enfrentar essa oligarquia que há décadas controla o Pará”, declarou o prefeito, em referência à família Barbalho, grupo político tradicional no estado.
Santos foi reeleito em 2020 com mais de 80% dos votos válidos. A eventual confirmação do afastamento em instâncias superiores pode comprometer sua elegibilidade nas próximas eleições.
Enquanto o processo segue em tramitação, a administração municipal de Ananindeua será conduzida pelo vice-prefeito Hugo Atayde, que assumiu interinamente.
