O julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no processo da trama golpista no Supremo Tribunal Federal (STF) começa nesta terça-feira (2/9) em meio à intensificação das articulações do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), pelo projeto da anistia aos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023.
Segundo aliados de Tarcísio, embora esteja atuando para ajudar a viabilizar a proposta dentro do Congresso Nacional, a tendência é que o afilhado político de Bolsonaro evite se expor de modo a ter que fazer comentários sobre a atuação dos ministros do Supremo durante as sessões de julgamento.
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Marcos Pereira e o governador Tarcísio de Freitas
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Tarcísio diz que Bolsonaro é “inocente” e que anistia é “pacificação”
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Tarcísio de Freitas, Ricardo Nunes e Michel Temer participam da Cerimônia de Abertura do 67° Congresso Estadual de Municípios
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Presidente da Assembleia Legislativa, André do Prado (PL), pastor Manoel Ferreira, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e a primeira-dama, Cristiane Freitas
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Tarcísio de Freitas aponta risco de perda de 120 mil empregos em São Paulo devido ao tarifaço
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O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) recebe cumprimento militar na solenidade de Passagem do Comando Geral da PM
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Tarcísio de Freitas e o ex-prefeito de Embu Ney Santos durante entrega de 432 unidades habitacionais em Embu das Artes
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Nesta terça, enquanto o STF começa o julgamento do chamado “núcleo crucial” das investigações sobre a suposta tentativa de golpe de Estado por Bolsonaro e outros sete aliados, o governador deve ir à Brasília para buscar diálogo com parlamentares sobre a PEC da Anistia.
A expectativa é que ele se encontre com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que é de seu partido e tem sido pressionado por bolsonaristas a pautar o projeto de lei. Os dois já conversaram sobre o tema por telefone nessa segunda-feira (1º/9) — Motta tem dito que não há clima para aprovar uma anistia ampla e irrestrita.
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As agendas mais importantes de Tarcísio ao longo da semana serão os leilões da concessão do túnel Santos-Guarujá e do lote Paranapanema de rodovias. Ambos os certames ocorrerão na próxima sexta-feira (5/9). No domingo (7/9), deverá participar do ato bolsonarista na avenida Paulista.
Caso seja questionado sobre o julgamento no STF, o governador deve manter a linha adotada nas declarações feitas na última sexta-feira (29/8), quando reafirmou que acredita na inocência de Bolsonaro e disse que “muita coisa” no processo “não faz o menor sentido”. Tarcísio disse ainda que tem conversado com lideranças para viabilizar a tramitação da anistia.
“A gente acredita muito nesse projeto como um fator de pacificação. Eu acho que dá para se construir um ambiente para aprovar isso”, disse. No mesmo dia, Tarcísio afirmou em entrevista a um veículo do ABC paulista, onde cumpria agenda, que caso seja eleito presidente da República daria um indulto a Bolsonaro como “primeiro ato” de seu governo.
Articulação pela anistia
Na segunda-feira (1º/9), véspera do julgamento, o governador de São Paulo se reuniu com o presidente nacional do seu partido, Marcos Pereira, para falar sobre a tramitação do projeto de anistia, que tem enfrentado entraves para avançar no Congresso.
“Café da manhã com o nosso governador Tarcísio de Freitas. No cardápio do dia: anistia”, escreveu o presidente do Republicanos.
O projeto de lei prevê a anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro e a expectativa de bolsonaristas é que ele também sirva para ajudar o ex-presidente, que é réu por tentativa de golpe de Estado no STF.
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De acordo com alguns aliados, a decisão de Tarcísio e de Marcos Pereira em publicizar a articulação pela anistia teria como pano de fundo o objetivo de “blindar” Motta. O endosso público de figuras como o governador e dirigentes partidários diminuiria o peso da decisão de pautar o projeto.
“A ideia é chegar em um ponto em que vão poder dizer que o Hugo Motta não tem mais o que fazer a não ser pautar”, afirma um aliado. Desta forma, a entrada do projeto em pauta seria lido como um movimento maior e não apenas uma vontade de Motta, que tem sofrido pressão dos dois lados.
Membros do Republicanos lembram da operação da Polícia Federal que mirou um possível esquema de fraudes na gestão do pai do presidente da Câmara, Nabor Wanderley, no município de Patos, na Paraíba. Nos bastidores, temem que uma atuação mais destacada de Motta em prol da anistia possa ensejar retaliações por meio da PF.
Aumento da pressão
Nas últimas semanas, com o avanço das etapas do julgamento no STF e também a adoção de medidas cautelares contra Bolsonaro, como o uso de tornozeleiras eletrônicas e a prisão domiciliar, tem crescido a pressão dos partidos da direita para que Tarcísio seja definitivamente escolhido para disputar o Palácio do Planalto em 2026, com a benção do ex-presidente.
Publicamente, no entanto, o governador de São Paulo segue dizendo que pretende ser candidato à reeleição. Apesar disso, Tarcísio tem participado de eventos ligados ao mercado financeiro e ao empresariado, nos quais tem ensaiado discursos em tom presidencial. Em um deles, chegou a ensaiar um bordão inspirado no ex-presidente Juscelino Kubitschek.
Por um lado, o governador conta com o apoio quase unânime das principais lideranças partidárias que compõe a oposição ao governo Lula. Por outro lado, as conversas vazadas entre o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e o pai, em que o filho do ex-presidente faz diversas críticas às movimentações de Tarcísio para se viabilizar nacionalmente, expuseram o racha na direita em relação à estratégia para 2026. Eduardo também busca se cacifar para representar o pai nas urnas.
“Na política, a gente tem que compreender os momentos. Hoje eu não vejo, dentro do Supremo, um ambiente para deixar qualquer Bolsonaro concorrer. O ex-presidente está deixando rolar. Ele está vendo quem é mais viável. Obviamente que os filhos são filhos, mas precisam ter condições. Tem que ganhar a eleição”, avaliou um interlocutor do grupo.
Segundo esse aliado, Bolsonaro jamais atuou para desautorizar qualquer movimento de Tarcísio pela candidatura ao Planalto.
“Paciência histórica ou ousadia”
- Para o cientista político Rodrigo Prando, da Universidade Presbiteriana Mackenzie, com o afunilamento da situação jurídica de Bolsonaro e a provável condenação do ex-presidente, Tarcísio terá que, em breve, sair da situação de ter “um pé em cada canoa”.
- “Se ocorrer uma condenação do Bolsonaro, o governador vai se sentir muito mais desimpedido e livre para assumir uma postura de presidenciável. Em breve, Tarcísio tem que se mostrar ou mais radicalizado para fidelizar esse eleitor bolsonarista ou acenar mais ao centro moderado, de maneira que o empresariado e os meios de comunicação o compreendam como alguém, embora criatura de Bolsonaro, diferente do seu criador”.
- O analista afirma que Tarcísio terá que fazer uma escolha política entre a “paciência histórica” e a “ousadia”.
- “A opção pela paciência é a continuidade para uma reeleição dada como certa para o governo de São Paulo, sem nenhum concorrente à altura. Ou então a opção da ousadia, que seria concorrer com Lula, que é candidato direta ou indiretamente em todas as eleições da Nova República, desde 1989. Lembrando o quanto o Lula e a esquerda na campanha eleitoral vão explorar a imagem do Tarciso com o boné ‘MAGA’dos Estados Unidos”, avalia Prando.