segunda-feira , 21 julho 2025
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Rei do carbono suspeito de grilagem teve fazenda ligada a cripto verde

Apontado pela Polícia Federal (PF) como grileiro de mais de 500 mil hectares na Amazônia, o empresário Ricardo Stoppe Jr. chegou a ser parceiro de uma empresa da Faria Lima que usou suas propriedades sob suspeita para dar lastro a uma criptomoeda “verde”.

Antes de ser alvo de investigações que envolvem falsificação de documentos e pagamento de propinas para se apropriar de terras na Amazônia, o empresário era badalado. Personagem de matérias elogiosas na imprensa especializada e figura carimbada em eventos sobre sustentabilidade.

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Empresário Ricardo Stoppe Junior foi preso em operação da Polícia Federal sobre grilagem, propinas e extração ilegal de madeira

Reprodução/Redes sociais

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Jeff Bezos foi citado

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Luis Adaime ficou conhecido como dono da Moss, que vendeu criptomoeda lastreada em créditos de carbono

Divulgação

Stoppe Jr. tornou-se um dos maiores vendedores de crédito de carbono do Brasil. Empresas grandes, como multinacionais, companhias aéreas e até bancos embarcaram. Um desses negócios era com a Moss, empresa que vendia uma criptomoeda lastreada em crédito de carbono das fazendas do empresário.

Em uma entrevista à Forbes, quando ainda não havia sido devassado pela PF, Stoppe Jr. disse: “A parceria com a Moss nos deu a possibilidade de viabilizar a venda do crédito de carbono e pôr em prática uma série de ações que não conseguíamos fazer porque tínhamos dificuldade na venda do crédito”.

Como mostrou o Metrópoles, a criptomoeda da Moss naufragou antes mesmo de Stoppe Jr. entrar na mira da Polícia Federal. Chegou a valer na casa dos R$ 100 (quase U$ 18) e hoje está em centavos. Patrocinou o Flamengo, fez parceria com a Gol e vendeu seu ativo para o banco C6 “zerar” suas emissões de carbono.

Uma das fazendas vendidas como base da MCO2, a criptomoeda verde, era a Ituxi, uma propriedade no sul da Amazônia que fazia parte do império de propriedades do Ricardo Stoppe Jr.

Amazônia e militância

Nas redes sociais, Stoppe Jr. demonstra ser um bolsonarista convicto. Teve diversas publicações derrubadas pelo próprio Facebook por informações falsas e chegou a defender intervenção militar em postagens. Seu filho, também investigado pela PF, doou R$ 5 mil ao ex-presidente Jair Bolsonaro na campanha de 2022.

Stoppe Jr. afirma investir desde o início dos anos 2010 em créditos de carbono, que têm lastro em projetos que geram redução de danos ambientais. Uma unidade equivale a uma tonelada de CO2 que deixou de ser emitido. Empresas podem comprar esses créditos para compensar eventuais impactos de suas atividades na atmosfera e no meio ambiente. Foram esses créditos que ele conseguiu vender a grandes multinacionais e fundos de investimentos.

“Hoje, somos o maior produtor de crédito de carbono do mundo”, disse em uma entrevista a um canal de agronegócio. Segundo ele, um dos ativos de sua empresa era a Fortaleza de Ituxi, que “começou em uma área de 133 mil hectares preservada”, no sul do Amazonas.

A área do projeto do qual o empresário se gaba é uma das principais na mira da PF. Investigadores identificaram um esquema segundo o qual ela foi registrada sobre terras da União e na terra indígena Kaxarari. A corrupção em cartórios e a apresentação de documentos falsos que acabaram avalizados pela Justiça fez com que parte dessas terras chegasse a dobrar de tamanho, segundo a investigação.

São matrículas que foram abertas em cartório com a data de aquisição do terreno nos anos 80, mas que, logo após o registro, foram transferidas a pessoas ligadas a Stoppe Jr. Na investigação, não faltam diálogos sobre esses esquemas. Em uma das conversas, o empresário menciona propinas a uma oficial de cartório de Apuí, na região amazônica.

“Bem, os 50 mil não era nem para aquilo, era 150 para o negócio do Alvorada, bem, entendeu? Que a doutora do Apuí lá está no pé, que fez a matrícula sem aquilo e não podia ter feito. Entendeu? Era para aquilo lá, eu não consegui até agora”, diz uma das mensagens. Em outra conversa, a PF identificou um suposto intermediário de Stoppe Jr. dizendo que “dinheiro resolve” em relação a registros na cidade de Lábrea (AM).

Em meio a investigação, o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) enviou à Polícia Federal um relatório no qual identificou transações suspeitas em meio a movimentações de R$ 1,1 bilhão. Somente ao marido da oficial de cartório de Apuí, citada no diálogo sobre a suposta propina, a Ituxi Participações, uma das empresas de Stoppe Junior, transferiu R$ 700 mil.

A transferência bate com uma das conversas obtidas pela PF sobre pagamentos a Sâmara Silva, a oficial do cartório de Apuí (AM): “Bem, essa conta aí desse contrato, nós vamos ter que fazer setecentos mil. É da Samara, tá?”, disse o empresário em um dos áudios.

Nas conversas, foi identificada a influência do empresário na região, inclusive sobre policiais. Outro áudio menciona que ele “destinou” uma viatura policial em Rondônia para procurar a própria filha que estava desaparecida durante uma paralisação de caminhoneiros. Em outros diálogos, cita acordos e pagamentos a policiais militares de alta patente para fazer operações na Fazenda Ituxi e favorecer seus interesses.

De acordo com a PF, o braço direito de Stoppe Jr. chegou a listar, em uma conversa, uma série de números telefônicos que, segundo ele, estariam grampeados em uma investigação do Ministério Público Estadual do Amazonas sobre as atividades do grupo.

O Metrópoles não conseguiu contato com o empresário Ricardo Stoppe Jr. O espaço segue aberto para manifestação.

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