A Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF), por meio da Coordenação de Repressão às Drogas (Cord), deflagrou, na manhã desta quinta-feira (4/9) a Operação Psicose, considerada uma das maiores ofensivas já realizadas contra o tráfico de drogas sintéticas e psicodélicas no país. A ação resultou na prisão de dois universitários brasilienses: Igor Tavares Mirailh e Lucas Tauan Fernandes Miguins.
A coluna Na Mira apurou que Igor Mirailh esteve matriculado nos cursos de museologia, artes cênicas e comunicação social da Universidade de Brasília (UnB), embora não tenha concluído nenhum deles. Já Lucas Miguins, estudante de uma universidade particular, dividia com o colega a liderança de uma célula da organização criminosa instalada na capital do país.
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Fontes policiais afirmam que os dois eram considerados operadores-chave do esquema, responsáveis pela manutenção de uma linha de produção própria de cogumelos alucinógenos contendo psilocibina, droga com alto poder alucinógeno e popularizada em festas de música eletrônica.
Linha de produção
De forma meticulosa e organizada, os dois universitários transformaram laboratórios improvisados em uma verdadeira linha de produção. Diferentes espécies de cogumelos eram cultivadas e comercializadas por meio de uma plataforma on-line com aparência profissional:
- Catálogo de variedades;
- Fotografias em alta resolução;
- Descrições detalhadas de efeitos e dosagens;
- Diversas formas de pagamento, incluindo cartão de crédito, Pix e transferências bancárias.
A logística de entrega também surpreendeu os investigadores. Os produtos eram despachados em embalagens discretas, enviados tanto por transportadoras privadas quanto pelos Correios, em um modelo semelhante ao dropshipping, que dificultava a identificação do material.
Além disso, os universitários mantinham um grupo exclusivo de WhatsApp, no qual clientes trocavam experiências, relatavam efeitos, compartilhavam orientações de consumo e recebiam recomendações diretas dos vendedores. Essa rede de comunicação funcionava como estratégia de fidelização, criando uma comunidade em torno da droga.
Venda on-line
A apuração teve início quando a Cord passou a monitorar um perfil no Instagram de uma suposta empresa registrada no Distrito Federal. O perfil direcionava usuários tanto para a plataforma de vendas quanto para o grupo de mensagens instantâneas.
No decorrer das análises, a polícia descobriu que a produção local realizada pelos universitários não era suficiente para atender à demanda crescente. Essa discrepância levantou a suspeita da existência de um fornecedor oculto, responsável por abastecer a rede em escala muito maior.
O trabalho de inteligência revelou então a existência de um centro de distribuição em Curitiba (PR). O local funcionava como o coração da operação criminosa, com produção em escala industrial e capacidade para abastecer diversos estados simultaneamente.
Além do centro logístico, a polícia identificou empresas de fachada em Santa Catarina e no Paraná, registradas como comércios de alimentos. Na prática, eram utilizadas para lavagem de dinheiro e ocultação das atividades ilegais.
Operação Psicose
Ao todo, cerca de 150 policiais civis foram mobilizados para cumprir 20 mandados de busca e apreensão e nove prisões preventivas em sete unidades da federação: Distrito Federal, Paraná, Santa Catarina, São Paulo, Pará, Minas Gerais e Espírito Santo.
Entre os presos estão os dois universitários do DF, agora apontados como peças centrais no fornecimento da droga para a capital federal. Durante a operação, foram apreendidos: computadores e celulares utilizados na administração da plataforma e documentos contábeis da organização.
De acordo com a Cord, a rede nacional chegava a movimentar até R$ 200 mil por dia, sustentada por uma estrutura que combinava produção avançada, logística eficiente e marketing digital agressivo. A plataforma recebia acessos de diversas regiões do Brasil e, graças à praticidade de pagamento e ao discreto sistema de entregas, conquistava cada vez mais consumidores.