sábado , 13 setembro 2025
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PF vê lavagem de dinheiro em mansão que virou jardim de Nelson Wilians

A Polícia Federal (PF) suspeita de lavagem de dinheiro na transação que envolveu a compra de um casarão de R$ 22 milhões, posteriormente demolido e transformado em jardim da mansão do advogado Nelson Wilians. O negócio, que envolveu o empresário Maurício Camisotti, suspeito de controlar três entidades da farra dos descontos indevidos sobre aposentados pelo Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), foi revelado pelo Metrópoles.

Como mostrou a coluna, Wilians é investigado pela PF por suspeita de lavar dinheiro de Camisotti proveniente da farra do INSS.

A suspeita foi levantada pela PF ao pedir a prisão de Nelson Wilians e Camisotti no âmbito da Operação Cambota, desdobramento da Sem Desconto, que investiga a farra do INSS. O requerimento foi referendado pelo ministro André Mendonça, do Supremo Triubunal Federal (STF),  para o empresário. Foi, no entanto, rejeitado para o advogado. Na mesma operação, também foi preso o lobista Antonio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.

Como mostrou o Metrópoles, em novembro de 2020, o empresário adquiriu, por R$ 22 milhões, uma mansão no Jardim Europa, bairro nobre paulistano. A mansão da família comprada por Camisotti era da família do falecido empresário Abílio Diniz e vizinha à de Wilians. Foi demolida, teve os muros derrubados, e o terreno acabou sendo anexado ao jardim da casa do advogado. O imóvel nunca passou para o nome de Wilians.

Segundo a PF, causou “estranheza” o fato de “Nelson Willians demonstrar tanto interesse em justificar previamente suas transações financeiras com Maurício Camisotti, especialmente diante da ampla divulgação do tema pelo jornal Metrópoles desde 2024, reforça a hipótese criminal do apuratório ao indicar que ele se considerava alvo da operação ao ponto de determinar a ocultação de parte de seu patrimônio”.

“As justificativas apresentadas variam entre alegadas operações imobiliárias – inexistentes nos bancos de dados oficiais – e supostos honorários adiantados, os quais não foram identificados nas contas pessoais ou empresariais de ambos”, afirmou a PF.

“Ressalte-se, ainda, que tanto Nelson Willians quanto Maurício Camisotti são titulares de inúmeras comunicações ao COAF, as quais apontam forte indício de movimentações financeiras suspeitas de elevado valor, realizadas por meio de pessoas e empresas sobrepostas, com evidente pulverização de recursos e ocultação de beneficiários finais”, diz a PF.

O Metrópoles revelou, em 2024, que o Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia identificado transferências de R$ 15,5 milhões do advogado a Camisotti. Já na Operação Sem Desconto, da Polícia Federal, relatórios de Coaf trouxeram à tona mais movimentações de Wilians, no valor de R$ 4,3 bilhões, entre 2019 e 2024.

Relatório do Coaf mostrou pagamentos milionários considerados atípicos de Nelson Wilians para Maurício Camisotti

Plano de saúde

A maior parte das transações entre o advogado e o empresário, no total de R$ 12 milhões, foi feita entre 2016 e 2020, período em que empresas ligadas a Camisotti, como a Prevident, e a banca de Nelson Wilians eram prestadoras de serviços do Geap, plano de saúde dos servidores públicos federais que tem em seu conselho e diretoria indicações políticas e era um feudo político do PP e do PT.

Em 2019, no governo Jair Bolsonaro (PL), militares foram indicados pelo governo e rescindiram os contratos com Camisotti e Wilians sob o argumento de que davam prejuízo. Batalhas judiciais entre o plano de saúde dos servidores, Camisotti e Wilians se arrastam até hoje no Judiciário de Brasília. Nessa briga, o advogado já defendeu a Prevident contra o Geap.

Chamado ao banco para dar explicações sobre repasses de Willians, Camisotti disse que os valores eram empréstimos que pegou com o advogado. A maior parte das transações foi da época em que empresas ligadas a Camisotti e a banca de advocacia de Wilians prestavam serviços ao plano de saúde dos servidores públicos federais, o Geap — ambas tiveram contratos rescindidos.

Além de se defender, o advogado também representou empresas de Camisotti na Justiça em disputas judiciais contra o Geap após a rescisão dos contratos. Depois, quando Camisotti criou entidades para efetuar descontos de mensalidade associativa de aposentados, direto na folha de pagamento, por meio de acordos com o INSS, Wilians passou a advogar para uma das associações, a Ambec, que faturou cerca de R$ 30 milhões mensais.

Defesa

Em nota, Nelson Wilians afirmou que tem colaborado integralmente com as autoridades e que “confia que a apuração demonstrará sua total inocência”. Também disse que a ligação entre ele e um dos investigados s restringe à relação profissional.

“Nelson Wilians já afirmou, anteriormente, que sua relação com um dos investigados — seu cliente na área jurídica — é estritamente profissional e legal, o que será comprovado de forma cabal. Os valores por ele transferidos referem-se à aquisição de um terreno vizinho à sua residência, transação lícita e de fácil comprovação”, afirma.

“Ressaltamos que a medida cumprida é de natureza exclusivamente investigativa, não implicando qualquer juízo de culpa ou responsabilidade. O advogado permanece à disposição para prestar todos os esclarecimentos necessários e reafirma seu compromisso com a legalidade e a transparência”, escreveu.

Já a defesa do empresário Maurício Camisotti afirma que não há qualquer motivo que justifique sua prisão no âmbito da operação que apura fraudes no INSS e aponta para uma “arbitrariedade” supostamente cometida durante a ação policial.

Segundo os advogados, Camisotti teve seu celular retirado das mãos no exato momento em que falava com seu advogado. “Tal conduta afronta garantias constitucionais básicas e equivale a constranger um investigado a falar ou produzir prova contra si próprio”, afirma a defesa.

“A defesa reitera que adotará todas as medidas legais cabíveis para reverter a prisão e assegurar o pleno respeito aos direitos e garantias fundamentais do empresário”, conclui a nota.

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