A Netflix anunciou em maio a produção da série brasileira Emergência Radioativa, que retrata o acidente com Césio-137 que marcou a história de Goiânia em 1987. A decisão de gravar a maior parte das cenas em São Paulo gerou críticas do Conselho Municipal de Cultura de Goiânia, que publicou uma carta para demonstrar “profunda insatisfação” com a produção.
“A tragédia deixou marcas que ainda hoje fazem parte do cotidiano e da identidade de nossa cidade. Contar essa história sem olhar para o lugar onde ela realmente aconteceu é retirar dela a verdade mais profunda: a memória do povo que a viveu”, afirmou o órgão.
Um aparelho hospitalar desmontado em um ferro-velho, há 38 anos, resultou na disseminação de 19 gramas de Césio-137 pela capital goiana. O episódio é considerado o maior acidente radiológico da história fora de uma usina nuclear, com quatro mortes confirmadas e mais de mil pessoas afetadas pela radiação na cidade.
O texto ressalta ainda que Goiânia tem condições plenas de receber produções desse porte, com profissionais qualificados, infraestrutura e locações reais. “Trazer a filmagem para cá não seria apenas fazer justiça à nossa história, mas também gerar empregos, movimentar a economia local e fortalecer a cultura brasileira com mais verdade e representatividade”, diz a carta.
Criada por Gustavo Lipsztein e dirigida por Fernando Coimbra, a série acompanha a atuação de médicos e físicos na corrida para salvar milhares de vidas durante a contaminação. O elenco conta com nomes como Johnny Massaro, Paulo Gorgulho e Tuca Andrada.
No documento, o Conselho faz um apelo para que a plataforma reconsidere os locais das gravações, que começaram em junho. “Por isso, pedimos à Netflix e à produção que revejam essa escolha e deem a Goiânia o espaço que lhe é de direito. Contem essa história aqui, onde ela nasceu e onde ainda pulsa”, declara o Conselho.
A Netflix e a produtora Gullane, responsáveis pela série, foram procuradas e não se manifestaram até a publicação desta matéria.