Sob forte pressão dos governos e da sociedade e em meio à ameaça de ter o contrato rompido, a Enel afirmou que está disposta a investir no enterramento em larga escala da fiação elétrica na Grande São Paulo como alternativa para reduzir apagões recorrentes após tempestades. A substituição da rede aérea por cabos subterrâneos é apontada como solução estrutural para minimizar as sucessivas quedas de energia, porém com altos custos para os consumidores.
O aceno ocorreu dias depois da companhia deixar cerca de 2,3 milhões de imóveis sem energia após uma ventania considerada recorde. O apagão fez os governos municipal, estadual e federal adotarem um discurso único contra a empresa. A Enel, por outro lado, se disse disposta a melhorar a imagem e continuar com a concessão, mas cobrou a participação das três esferas de poder.
“A solução necessária exige investimentos maciços em redes resilientes e digitalizadas, além da implantação em larga escala de uma rede de distribuição subterrânea. A empresa está disposta a realizar esses investimentos como parte de uma estratégia compartilhada com todas as instituições envolvidas”, afirmou numa nota à imprensa.
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A capital paulista tem mais de 20 mil quilômetros de rede elétrica, mas menos de 1% desse total está enterrado. O programa municipal SP Sem Fios, criado em 2017, avançou apenas 46,5 quilômetros até agora, abaixo da meta de 65,2 quilômetros prometida pela gestão Ricardo Nunes (MDB-SP) até 2024.
O apagão do último dia 10 de dezembro passou a ser considerado uma reincidência da Enel após os blecautes anteriores de 2024 e 2025, ampliando a insatisfação da população. Na semana retrasada, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) jogou nas costas do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), de São Paulo, a responsabilidade pelo problema com a Enel.
Já a empresa afirmou que todos os problemas foram resolvidos, mesmo sob reclamações de falta de energia até o fim da última semana. A Enel ainda sustenta que cumpre todos os indicadores previstos no contrato e que houve “avanços consistentes” nos índices de qualidade do serviço, inclusive comprovados por fiscalizações recentes da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“A Enel Brasil reafirma sua confiança no sistema jurídico e regulatório brasileiro para garantir segurança e estabilidade aos investidores com compromissos de longo prazo no país”, pontuou.
Desde que assumiu a concessão, em 2018, a Enel diz ter realizado investimentos recordes para modernizar a rede elétrica. Entre este ano e 2027, o plano prevê R$ 10,4 bilhões, além do reforço em manutenções preventivas e no número de podas de árvores.
A concessionária afirma que os ventos da última semana chegaram a quase 100 km/h e derrubaram centenas de árvores. Segundo a empresa, cerca de 1,8 mil equipes foram mobilizadas para atender uma área com cerca de 18 milhões de moradores.
