terça-feira , 2 setembro 2025
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Donos de postos foram ameaçados de morte pelo PCC para venda dos negócios

Investigações da Operação Carbono Oculto, deflagrada na manhã desta quinta (28) em 8 estados do país, apontam que empresários do setor de combustíveis foram coagidos a vender seus postos sob ameaça de morte por integrantes do PCC. A apuração apontou que a facção utilizava os estabelecimentos para lavar dinheiro, adulterar combustíveis e ampliar a presença no mercado formal.

De acordo com o Ministério Público de São Paulo (MPSP), vários proprietários que aceitaram vender seus postos nunca receberam os valores acordados e foram avisados de que, caso cobrassem a dívida, seriam executados. Há a suspeita de que o mesmo esquema foi utilizado contra donos de usinas sucroalcooleiras.

“Proprietários de postos de gasolina, que venderam seus estabelecimentos comerciais, não receberam os valores da transação e foram ameaçados de morte caso fizessem qualquer tipo de cobrança”, apontam os investigadores. A estratégia garantia à organização criminosa o controle direto da rede de distribuição, ampliando o alcance das fraudes.

Além da Operação Carbono Oculto, também foram realizadas as operações Quasar e Tank, pela Polícia Federal, em conjunto na força-tarefa contra mais de 350 alvos.

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A suspeita de compra das usinas sucroalcooleiras – de produção de etanol – coincide com os estados onde a operação é realizada: São Paulo, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Paraná, Rio de Janeiro e Santa Catarina.

Segundo o MPSP, o PCC se infiltrava na economia formal por meio da compra forçada de postos, transportadoras e distribuidoras de combustíveis. Os estabelecimentos serviam como fachada para movimentar recursos de origem criminosa, enquanto combustíveis adulterados eram repassados ao consumidor em larga escala.

A adulteração envolvia, principalmente, o uso irregular de metanol e nafta importados que chegavam ao Brasil pelo Porto de Paranaguá (PR) e desviado com documentação falsa. Mais de 300 postos espalhados por diferentes estados foram identificados com fraudes, entre bandeiras brancas (sem marca) e ligados a redes – mas, segundo fontes à par da investigação, sem conhecimento das companhias.

A investigação apontou que os consumidores eram lesados ao abastecer veículos com volumes menores do que o informado nas bombas e por combustíveis fora das especificações da Agência Nacional do Petróleo (ANP). Além da fraude direta, a prática permitia ganhos bilionários que eram realocados em uma rede de empresas de fachada, fundos de investimento e fintechs controladas pelo crime – mais de 30 são alvos da operação desta quinta (28), algumas delas localizadas na Avenida Faria Lima, na capital paulista, tida como o “coração” financeiro do país.

As investigações revelaram que as fintechs operavam como braço financeiro paralelo da facção, dificultando o rastreamento das transações, e operando bilhões do PCC em fundos de investimentos. As instituições de pagamento eram usadas para transferir recursos entre empresas e pessoas físicas sem identificar os beneficiários finais, criando um sistema de contabilidade clandestina.

“A escolha por uma instituição de pagamento – em vez de bancos tradicionais – visa a dificultar o rastreamento dos recursos. As fintechs operavam com contabilidade paralela, permitindo transferências entre empresas e pessoas físicas sem que os beneficiários finais fossem identificados”, detalha o MPSP.

Para o MPSP, o caso representa um exemplo grave de como o crime organizado avança sobre setores estratégicos da economia. A Procuradoria-Geral do Estado e o Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos (CIRA/SP) anunciaram medidas para bloquear bens e recuperar tributos sonegados, em valor estimado em R$ 7,67 bilhões.

A Operação Carbono Oculto mobilizou mais de 1,4 mil agentes em oito estados e teve apoio de órgãos como a Polícia Federal, a Receita Federal, as polícias Civil e Militar e a Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Os mandados de prisão e busca e apreensão miraram empresários, distribuidoras e integrantes da facção, que podem responder por crimes como fraude fiscal, à ordem econômica, crimes ambientais, lavagem de dinheiro, adulteração de combustíveis e estelionato.

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