Aliados cogitam secretaria estadual para blindar mandato de Eduardo Bolsonaro na Câmara
Auxiliares do governador do Rio, Claudio Castro (PL), começaram uma operação para impedir que ele leve adiante a possibilidade de criar uma secretaria especial para abrigar o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP).
Eles foram pegos de surpresa com a iniciativa, que teria partido do próprio governador, e avaliam que a proposta colocaria Castro na mira de empresários, políticos e até mesmo de setores do Poder Judiciário que veem com reserva as atitudes do deputado – que está fora do Brasil.
“Traz para si todo o olho do furacão”, disse um desses aliados.
Castro chegou a consultar ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) em Brasília sobre a possibilidade. Recebeu resposta negativa, como anteciparam as jornalistas Monica Bergamo, da Folha de S. Paulo, e Andreia Sadi, aqui no g1.
Na avaliação de pessoas próximas, em vez de ajudar, a consulta aos ministros sobre a ideia de nomear Eduardo Bolsonaro acabou gerando novo desgaste ao governador, inclusive com o Judiciário. E dificultando seus planos futuros.
É que no pano de fundo desse movimento de Castro, há uma busca pelo apadrinhamento de Jair Bolsonaro nas eleições do ano que vem.
Castro é declaradamente candidato ao Senado Federal, mas o ex-presidente tem sinalizado a aliados a possibilidade de escolher o líder do PL na Câmara, Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), para a vaga.
Em 2026, dois candidatos serão eleitos senadores em cada estado. É certa a candidatura de Flavio Bolsonaro (PL-RJ) à reeleição. Castro quer disputar a segunda vaga na chapa bolsonarista.
Disputa pela chapa de 2026
Nos últimos meses, Castro indicou o então vice-governador Thiago Pampolha (MDB) ao Tribunal de Contas do Estado. E deixou o caminho livre para o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (União-RJ), assumir o governo em abril e se candidatar à reeleição.
A manobra gerou desgaste com antigos aliados, como o ex-prefeito de Duque de Caxias, Washington Reis (MDB-RJ). Reis era originalmente o candidato a vice de Castro. Mas, com condenações no STF, não pôde ser candidato e ocupou a Secretaria de Transportes durante quase toda a gestão.
No início do mês, enquanto Castro tirava uma semana de férias, Bacellar assumiu o governo interinamente e decidiu demitir o secretário. A motivação foi política: inviabilizar seu possível rival na campanha de 2026, já que Reis articula uma possibilidade de reverter a inelegibilidade.
O desgaste interno foi ‘comprado’ porque Castro tinha certeza de que seu caminho ao Senado estava pavimentado. Mas o alinhamento de Sóstenes à pauta bolsonarista assustou o governador, que decidiu arriscar o novo movimento.
Claudio Castro e Eduardo Bolsonaro
Adriano Machado/Reuters e Bruno Spada/Câmara dos Deputados
Manutenção do mandato de Eduardo
O PL pensa em soluções para que Eduardo Bolsonaro não perder o mandato. A licença do deputado acabou no último domingo (20) – ele não quer voltar ao Brasil nem renunciar ao mandato.
A Constituição Federal prevê que perde o mandato o parlamentar que faltar a um terço das sessões em um ano. Antes de se licenciar, Eduardo Bolsonaro já tinha faltado a quatro das dezoito sessões realizadas no Plenário.
Em entrevista na segunda (21), o líder do PL na Câmara disse que negocia “medidas legislativas ou soluções políticas” para o deputado. “O que eu posso garantir é que ele vai encerrar seu mandato”, disse o líder.
O caminho legislativo seria a aprovação de uma resolução interna que permite excepcionalmente que deputados exerçam seus mandatos do exterior, por videoconferência. O deputado Evair de Melo (PP-ES) já apresentou a proposta.
Mas, para ela prosseguir, o PL precisaria que Hugo Motta pautasse o projeto. E arcasse com o ônus da repercussão negativa da proposta. O que, nesse momento, parece pouco provável.
A outra possibilidade seria Eduardo Bolsonaro ser nomeado secretário municipal ou estadual. Isso permitiria uma licença sem data para acabar na Câmara. E ainda permitiria que ele continuasse recebendo o salário de deputado.
Castro saiu na frente para viabilizar a segunda alternativa. Mas deve retirar o convite antes mesmo de propor.