terça-feira , 29 julho 2025
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A dias do tarifaço, empresas anunciam demissões e férias coletivas

A poucos dias da entrada em vigor do tarifaço, com novas tarifas americanas sobre produtos importados, empresários e trabalhadores brasileiros já sofrem os impactos da medida que será aplicada sobre o Brasil.

Com a sobretaxa de 50% a todas as exportações do país para os Estados unidos, anunciada pelo presidente Donald Trump para iniciar na sexta-feira (1.º), importadores americanos têm suspendido contratos de importação e indústrias de diferentes áreas se viram obrigadas a paralisar atividades, demitir funcionários e impor férias coletivas forçadas.

No Sul, setor madeireiro anuncia demissões e antecipa férias por causa de tarifaço

O setor madeireiro, que concentra cerca de 90% de sua capacidade instalada nos três estados da região Sul, é um dos mais afetados. Na semana passada, a Sudati, que produz compensados de madeira, anunciou o desligamento coletivo de 100 funcionários de duas fábricas, nas cidades de Ventania e Telêmaco Borba, no Paraná, em razão da insegurança financeira. 

As demissões motivadas pelo tarifaço serão realizadas ao longo de 60 dias e, segundo a empresa, os colaboradores afetados estão sendo comunicados individualmente. Por enquanto, os trabalhadores das unidades de Palmas e Ibaiti, também no Paraná, e de Otacílio Costa, em Santa Catarina, não devem ser afetados. 

Na BrasPine, que fabrica produtos à base de madeira, 1,5 mil funcionários, mais da metade do quadro da empresa, entraram em férias coletivas pela mesma razão. No dia 15, a companhia anunciou a medida por 30 dias para 700 trabalhadores da fábrica de Jaguariaíva (PR). Na semana seguinte, mais 800 pessoas foram incluídas – 50 da mesma unidade e outros 750 da planta de Telêmaco Borba.

Os trabalhadores foram divididos dois grupos: o primeiro parou na segunda-feira (28), por 30 dias, e o outro entra em férias, também por 30 dias, a partir da próxima segunda (4). 

Outra empresa paranaense, a Millpar, também fabricante de produtos de madeira, deu férias coletivas a 720 funcionários das unidades de Guarapuava e Quedas do Iguaçu. Os trabalhadores atingidos atuam na manufatura de produtos voltados à exportação – a maior parte da produção da empresa é destinada ao mercado americano. 

De acordo com a empresa, a medida pode ser ampliada, dependendo do desenrolar das negociações do Brasil com os Estados Unidos nos próximos dias. 

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Em Santa Catarina, o grupo Ipumirim também decidiu antecipar férias coletivas para 550 colaboradores. Segundo a empresa, a medida foi tomada enquanto se aguarda uma definição nas negociações comerciais entre Brasil e Estados Unidos. A marca atua na fabricação de portas, kit de portas, molduras e no manejo de floresta própria.

Outra empresa catarinense, a Móveis Weihermann, que destina 70% de sua produção para os Estados Unidos, suspendeu as atividades nesta semana. 

O setor madeireiro emprega aproximadamente 180 mil pessoas em postos diretos e em 2024 exportou US$ 1,6 bilhão para o mercado americano, cerca de 50% da produção nacional, segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Madeira Processada Mecanicamente (Abimci).

De acordo com a entidade, alguns segmentos dependem exclusivamente dos Estados Unidos, com 100% das vendas atreladas ao país. A maioria dos contratos com empresas americanas estão sendo cancelados e muitos embarques do setor foram suspensos desde o anúncio das novas tarifas. 

“O setor possui aproximadamente 1.400 contêineres com produtos já embarcados e em trânsito marítimo para os Estados Unidos. Além disso, em torno de 1.100 contêineres estão posicionados em terminais portuários aguardando embarque”, informou a associação, em nota.

Empresas siderúrgicas paralisam atividades em Minas Gerais

Em Minas Gerais, a iminência da aplicação das novas tarifas americanas gera uma das maiores crises recentes da indústria de ferro-gusa, utilizado na produção de aço. Com o aumento de custos, empresas dos Estados Unidos que importam o produto brasileiro têm suspendido contratos de compra desde o anúncio do aumento da tarifa pelo governo americano.

Os Estados Unidos são o principal destino do material produzido no estado, absorvendo cerca de 68% da produção, segundo o Sindicado da Indústria do Ferro de Minas Gerais (Sindifer). 

Nesta segunda-feira, a Fergubel, localizada em Matozinhos, na região metropolitana de Belo Horizonte, parou as atividades por 30 dias, colocando em férias coletivas todos os seus cerca de 150 funcionários. 

“A decisão foi tomada diante dos desafios enfrentados pelo setor siderúrgico, agravados por medidas como o recente tarifaço de 50% imposto pelos Estados Unidos, que vêm afetando diretamente a cadeia produtiva do ferro-gusa e impactando a competitividade das exportações brasileiras”, informa um comunicado da empresa. 

Outras duas empresas mineiras do setor, a Modulax e a CSS Siderúrgica Setelagoana, também recorreram à medida, por tempo indeterminado, para, em princípio, evitar demissões em razão do tarifaço.

Em 2024, 87% das exportações de ferro-gusa brasileiras tiveram como destino os Estados Unidos, que importou 3,3 milhões de toneladas do material. Cerca de 85% desse volume saiu de Minas Gerais.

Com entrada em vigor do tarifaço, demissões podem chegar a 110 mil, diz estudo

Na semana decisiva para os exportadores brasileiros, as negociações do Brasil com os Estados Unidos continuam travadas. No domingo (27), Trump negou a possibilidade de adiamento da medida, confirmando a entrada em vigor das novas taxas a partir do dia 1º.

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O tarifaço, se confirmado, pode gerar demissões em massa ainda em importantes setores do agronegócio, como o de café, carne bovina e suco de laranja, além das indústrias de petróleo e gás, peças para aeronaves, máquinas e equipamentos de geração de energia e minerais não metálicos.

A Taurus, maior fabricante de armas de fogo do Brasil e uma das maiores fornecedoras de pistolas para o mercado americano, declarou que, caso a tarifa seja mantida, poderá transferir toda a sua operação para os Estados Unidos. A mudança resultaria na perda de até 15 mil empregos no Rio Grande do Sul, sendo 3 mil deles diretos, gerados pela fábrica em São Leopoldo (RS).

Um estudo do Núcleo de Estudos em Modelagem Econômica e Ambiental Aplicada (Nemea), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) estima que o tarifaço americano pode levar a até 110 mil demissões no país. O impacto seria de 40 mil postos de trabalho na agropecuária, 31 mil no comércio e 26 mil na indústria.

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Conforme o levantamento, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheria 0,16%, o equivalente a uma redução de R$ 19,2 bilhões. Os estados mais prejudicados, em termos absolutos, seriam São Paulo (-R$ 4,4 bilhões), Rio Grande do Sul (-R$ 1,9 bilhões), Paraná (-R$ 1,9 bilhão), Santa Catarina (-R$ 1,74 bilhão) e Minas Gerais (-R$ 1,66 bilhão).

Estados lançam medidas para socorrer empresas; governo federal estuda programa de preservação de empregos

Em meio ao clima de tensão gerado entre empresários e à dificuldade do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) de negociar uma redução, adiamento ou flexibilização do tarifaço com os Estados Unidos, alguns estados já anunciaram medidas de ajuda às empresas afetadas, com o objetivo de minimizar prejuízos, falências e demissões.

Ronaldo Caiado, governador de Goiás, anunciou na semana passada uma linha de crédito emergencial para empresas com exposição significativa ao mercado norte-americano. A taxa anual de financiamento será inferior a 10%.

Em São Paulo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) lançou uma linha de crédito com juros subsidiados para exportadores paulistas, com a disponibilização de até R$ 20 milhões por empresa, com taxas de juros a partir de 0,27% ao mês mais a inflação, prazo de pagamento de até 60 meses, com carência de até 12 meses.

O governo paulista vai ainda liberar créditos de ICMS acumulados por empresas exportadoras, no valor de até R$ 1 bilhão, que ficam retidos no sistema tributário estadual e deve ampliar o Fundo Garantidor do Estado, que permite acesso a crédito com menor exigência de garantias. 

No Paraná, o governador Ratinho Junior (PSD) anunciou na semana passada um pacote para empresas que vendem para os Estados Unidos. Créditos de ICMS serão liberados para serem usados para monetização, giro ou como garantia para tomada de empréstimos.

Mais de R$ 400 milhões serão disponibilizados para oferta de linhas de crédito especial pela Fomento Paraná e pelo Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Além disso, empresas poderão solicitar o adiamento de parcelas de empréstimos já contratados. 

O governo do Rio Grande do Sul também anunciou um programa de liberação de crédito, de R$ 100 milhões, por meio do BRDE, para exportadores que vendem para os Estados Unidos, Segundo a administração de Eduardo Leite (PSD), os juros serão equalizados com recursos do Fundo Impulsiona Sul e ficarão entre 8% e 9% ao ano. O prazo de pagamento será de 60 meses, com 12 meses de carência. 

O governo federal também estuda medidas de socorro a empresas e preservação de empregos, de modo a evitar demissões em massa diante do cenário cada vez mais inevitável do tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. 

A proposta elaborada pela equipe do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, incluiria medidas de facilitação de crédito para empresas exportadoras, além de um programa de manutenção de trabalho e renda, semelhante ao BEm, benefício emergencial criado pelo governo de Jair Bolsonaro (PL) durante a pandemia de Covid-19.

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