O nome de Fábio Luís Lula da Silva, conhecido como Lulinha e filho mais velho do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, surgiu de forma direta nas investigações da Polícia Federal ligadas à Operação Sem Desconto, que apura um esquema de fraudes em descontos associativos sobre benefícios do INSS. Uma anotação em uma agenda apreendida pela PF contém a referência “Fábio (filho Lula)” ao lado de informações sobre credenciais para acesso a um camarote em Brasília.
A anotação estava em um papel encontrado dentro de um envelope durante diligências da 1ª fase da Operação Sem Desconto, realizada em abril de 2025 pela Polícia Federal. No envelope havia ingressos para o camarote 309 de um show em Brasília e também a menção a um flat no condomínio Brisas do Lago, na capital federal, conforme documentos obtidos pelo Poder360.
No texto da agenda consta: “Mínimas informações possíveis. CPF – Fábio (filho Lula). Terça a quinta-feira. 03 a 05/12. Contato Paulo Marinheiro – ok Gaspar passa contato – ok Cristina – ok”. Logo abaixo, estava a indicação: “Pegar com Antônio”.
A decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) que autorizou a nova fase da Operação Sem Desconto, deflagrada na quinta-feira (18), cita um diálogo interceptado entre Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como Careca do INSS — apontado como principal articulador das fraudes — e a empresária e lobista Roberta Luchsinger, amiga próxima de Lulinha.
Nas mensagens, Roberta demonstra preocupação com a apreensão do envelope:
“E só para você saber, acharam um envelope com nome do nosso amigo no dia da busca e apreensão”, escreveu ela ao Careca. Este respondeu: “Putz”. Ainda nos diálogos via WhatsApp, Roberta teria aconselhado o interlocutor a se desfazer de provas: “Joga fora”, ao que ele respondeu: “Já fiz isso”. Posteriormente, ela afirma: “Conte com a gente”.
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Roberta e Careca tentaram ocultar provas
Além das mensagens, há outros indícios de aproximação entre Roberta e Lulinha, como viagens com passagens compradas em conjunto. Conversas de WhatsApp reproduzidas em documentos mostram referências a Lulinha como “nosso amigo” ou “meu amigo”. Em um trecho, aparece: “Mas é mais do mesmo. Vão tentar jogar o Fábio dentro disso”. Em outro, há: “Meu amigo gostou”, embora não esteja claro o que teria agradado ao filho do presidente.
Segundo a PF, Roberta teve participação significativa nos negócios do Careca do INSS, incluindo uso de empresas de fachada e tentativa de ocultação de provas. A corporação entende que ela seria o principal elo entre o Careca e Lulinha. As investigações mostram que Roberta e o Careca discutiram formas de criar esquemas para “esquentar o dinheiro” obtido com as fraudes contra aposentados e pensionistas.
Relatórios do Coaf indicam que Roberta recebeu R$ 1,5 milhão do Careca do INSS, em cinco pagamentos de R$ 300 mil cada, quantias que — segundo a decisão do STF — teriam sido feitas para o “filho do rapaz”, expressão usada no documento para se referir a Lulinha.
A investigação também apurou que a relação entre Roberta e o Careca começou no fim de 2024, quando os valores dos esquemas de descontos associativos irregulares chegaram a níveis recordes. O contrato de consultoria firmado entre eles, segundo documentos da CPMI do INSS, aparentemente não tinha respaldo técnico ou operacional claro, e a emissão de notas fiscais ocorria sem identificação precisa do serviço prestado ou recebido.
Defesa alega acusações fora de contexto
O advogado de Roberta Luchsinger, Bruno Salles, afirmou que o conteúdo das investigações está completamente descontextualizado e que será esclarecido oportunamente. A defesa afirmou ainda que Roberta tem relações pessoais com a família de Lulinha há muitos anos e que seus negócios com o Careca do INSS teriam limitado escopo operacional.
“(Roberta) jamais teve qualquer relação com descontos do INSS”, afirmou, argumentando que sua atuação profissional se restringiu à “prospecção e intermediação de negócios com empresas nacionais e estrangeiras”. Os contatos mantidos com Antônio Carlos , (Careca do INSS) se limitaram a conversas iniciais sobre projetos no setor de canabidiol, que “não chegaram a prosperar”.
Marco Aurélio de Carvalho, ex-advogado e amigo de Lulinha, disse que o filho do presidente não contratou advogado porque não é alvo formal das investigações e classificou as mensagens como “absolutórias”, alegando que as citações seriam “fofocas, vilanias e tentativas de mais uma vez envolver o nome do filho do presidente em escândalos”. Ele mencionou boatos antigos vinculados ao filho do presidente que foram desmentidos, como o da “Ferrari de ouro”.
Investigação de Lulinha divide PF
Embora o escândalo do INSS tenha sido tornado público em abril, as investigações ainda não avançaram para demonstrar eventual envolvimento direto de Lulinha no esquema. Há um debate interno na Polícia Federal: uma parte defende aprofundar a apuração sobre a participação dele, enquanto outra, fiel ao presidente Lula, entende que os indícios ainda são fracos para ações mais contundentes.
Até o momento, prevalece o entendimento de que Lulinha não está “diretamente envolvido nas condutas relativas aos descontos associativos fraudulentos”.
Perguntado sobre as referências ao nome de seu filho nas investigações, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que ninguém ficará acima da lei: “ninguém ficará livre das apurações. Se tiver filho meu metido nisso, ele será investigado”, declarou, ressaltando que a apuração será conduzida com seriedade.











