sexta-feira , 19 dezembro 2025
Lar Economia Isenção do IR pode ser estendida totalmente à PLR
Economia

Isenção do IR pode ser estendida totalmente à PLR

Sancionada nesta quarta-feira (26) pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a isenção do Imposto de Renda (IR) para salários de até R$ 5.000 une a agenda de “justiça social” do governo à sua estratégia de campanha, mas já acende um alerta vermelho no mercado. A preocupação central reside nas implicações fiscais da medida e na sinalização de que o benefício pode ser estendido à Participação nos Lucros e Resultados (PLR), o que exigiria uma compensação ainda maior via novas tributações.

Lula argumenta que é injusto que ele, ao receber dividendos, não pague nada de IR, enquanto um trabalhador que recebe um bônus de R$ 10.000 como participação nos lucros precise pagar o tributo.

No modelo atual, a PLR possui um regime de tributação exclusiva na fonte e uma tabela progressiva própria — mais vantajosa que a incidente sobre os salários —, sendo tributada apenas quando o valor recebido pelo empregado excede R$ 8.214. A proposta de isenção total equipararia o bônus ao salário isento, mas geraria uma renúncia fiscal adicional considerável. O temor do mercado é que a conta dessa equiparação recaia sobre o setor produtivo, possivelmente via aumento da CSLL ou do IRPJ das empresas.

Conta da renúncia e compensação podem aumentar com isenção do IR à PLR

A perda arrecadatória com a isenção do IR é substancial. Projeções indicam uma renúncia fiscal de R$ 31,3 bilhões apenas em 2026, valor que aumenta para R$ 33,5 bilhões em 2027 e R$ 35,9 bilhões em 2028, apontam especialistas.

Para cobrir esse rombo, o governo instituiu novos mecanismos de tributação, com foco na alta renda. A compensação deve assegurar uma receita de R$ 34,1 bilhões em 2026. Os principais mecanismos são a criação do Imposto Mínimo para Altas Rendas e a Taxação de Dividendos ao Exterior. O ministro Fernando Haddad defendeu que o projeto é “neutro do ponto de vista fiscal”, enfatizando que, pela primeira vez, o ajuste das contas foi feito por meio do “andar de cima”.

Apesar da narrativa de justiça social, a nova arquitetura tributária levanta sérias preocupações para o empresariado. A compensação via taxação da alta renda, especialmente sobre lucros e dividendos, é vista como um mecanismo de “dupla tributação”.

A crítica argumenta que dividendos já são tributados indiretamente, pois provêm de lucros após impostos corporativos. O imposto adicional de 10% representa uma dupla tributação que desestimula investimentos. Na prática, ao reduzir o retorno líquido do acionista, a medida torna o mercado de capitais brasileiro menos atrativo, impactando a alocação de capital e afugentando investidores que buscam ambientes de negócios mais favoráveis. A alegação governamental de que dividendos são “livres de impostos” é considerada enganosa e divisiva.

A ampla isenção de IR afasta o Brasil do modelo de bem-estar social escandinavo, onde praticamente toda população ativa contribui proporcionalmente. Enquanto na Noruega (93%) e Dinamarca (90,6%) a maioria paga IR, no Brasil apenas 34 milhões (16%) pagarão a partir de 2026.

Essa redução da base tributária diminui o “letramento fiscal” — contribuintes tendem a cobrar maior eficiência dos gastos públicos. A longo prazo, a menor arrecadação sobre renda pode forçar maior tributação sobre consumo, modelo regressivo que prejudica desproporcionalmente os mais pobres.

Artigos relacionados

Carro voador da Embraer faz 1º teste no interior de São Paulo

Um protótipo de aeronave elétrica de decolagem e pouso vertical (eVTOL, popularmente...

Grevistas devem manter 80% do efetivo dos Correios, manda TST

O Tribunal Superior do Trabalho (TST) determinou que servidores em greve nos...

manobras geram risco de shutdown no Brasil

O governo federal recorre a manobras contábeis para evitar um colapso financeiro...

Tesouro autoriza Correios a contratarem empréstimo de R$ 12 bilhões

O Tesouro Nacional aprovou, nesta quinta-feira (18), o pedido de empréstimo de...