A importância da ONU é cada vez menor, e a importância do Brasil para o mundo é praticamente nenhuma. Mas a imprensa brasileira, coitada, se sente obrigada a dar um destaque desproporcional ao discurso do presidente da República na Assembleia-Geral da Nações Unidas.
Todo ano, é a mesma coisa: destaca-se que o representante do Brasil é sempre o primeiro a discursar, obedecendo à tradição inaugurada por Oswaldo Aranha, como se houvesse muito significado nisso, e que o presidente brasileiro criticou o Conselho de Segurança, do qual o Brasil quer fazer parte, apesar de não termos poderio militar e de a nossa economia ser um troço chinfrim.
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No mais, os presidentes brasileiros costumam usar o palanque internacional para fazer propaganda interna dos seus governos, aproveitando os holofotes da imprensa nacional, e Lula não decepcionou.
A diferença esperável é que , neste ano, ele aproveitou para defender a soberania brasileira e criticar os Estados Unidos, mas não diretamente, pela tentativa de interferir no processo contra Jair Bolsonaro por meio das sanções impostas ao país.
O presidente brasileiro vendeu o Brasil como democracia exemplar, afirmando que o seu predecessor teve “amplo direito à defesa”, uma evidente cascata.
Na verdade, quem teve amplo direito à defesa foi o petista, julgado em todas as instâncias do Judiciário, antes de ser preso por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da falecida Lava Jato.
Lula e a imprensa brasileira, no entanto, tiveram uma surpresa na sequência.
No final do seu discurso enfadonho e egocentrado, no qual avacalhou a ONU, vangloriou-de ter acabado com guerras no mundo, afirmou que a imigração ilegal estava destruindo a Europa e chamou o aquecimento global de farsa, o presidente americano Donald Trump fez um aceno a Lula, para desgosto dos bolsonaristas, depois de criticar o Brasil por fazer perseguição política, tentar censurar cidadãos americanos e impor tarifas a produtos americanos.
“Eu estava entrando e o líder do Brasil estava saindo. Eu o vi, ele me viu, e nos abraçamos. Combinamos de nos encontrar na semana que vem. Não tivemos muito tempo para conversar, uns 20 segundos. Tivemos uma boa conversa e combinamos de nos encontrar na semana que vem. Mas ele pareceu ser um homem muito legal. Na verdade, ele gostou de mim, eu gostei dele. Tivemos uma química excelente. E eu só faço negócios com pessoas de quem gosto”, disse o presidente americano.
Se o encontro realmente ocorrer, é grande a chance de Lula e Trump virarem chapas e chegarem a bom termo. Raspado o verniz de hipocrisia ideológica do presidente brasileiro, ambos têm muitos pontos em comum: são populistas, têm moral dúctil, gostam de calar opositores, adoram se lambuzar em petróleo e são amigos de Vladimir Putin. Talvez o presidente americano perceba que Lula não é tão diferente assim de Jair Bolsonaro, com a vantagem de as piadas do petista serem melhores, mais picantes.