sexta-feira , 19 setembro 2025
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Macron critica Netanyahu e propõe virada diplomática em TV israelense

Em entrevista ao Canal 12 da televisão israelense, o presidente francês, Emmanuel Macron, defendeu o reconhecimento do Estado palestino como estratégia para isolar o grupo islamista Hamas e reativar a proposta de dois Estados vizinhos. Ao mesmo tempo, Macron criticou duramente a ofensiva militar na Faixa de Gaza, que, segundo ele, compromete a imagem internacional de Israel. A proposta francesa, que será oficializada na ONU, marca uma virada diplomática com possíveis desdobramentos concretos na região.

Macron sublinhou que a legitimidade da causa palestina não pode ser confundida com os atos do grupo islamista, e que a proposta de dois Estados está à beira de se tornar inviável diante das ameaças de anexação da Cisjordânia.

Ele tentou visitar Israel antes da realização da Conferência Internacional de Alto Nível sobre a Solução Pacífica da Questão da Palestina e a Implementação da Solução de Dois Estados, marcada para a próxima segunda-feira (22/9), em Nova York, mas teve sua proposta recusada pelo governo israelense. Ainda assim, declarou que pretende continuar dialogando com o premiê Benjamin Netanyahu, apesar de considerar que o atual governo de extrema direita está minando qualquer possibilidade de paz duradoura.

“Israel obteve avanços únicos em segurança, mas as operações em Gaza são contraproducentes e, devo dizer, um fracasso”, afirmou Macron.
O plano francês, já aprovado por ampla maioria na Assembleia Geral da ONU, exclui o Hamas de qualquer papel futuro na governança palestina. Para Macron, o reconhecimento é parte de um processo que deve gerar novos compromissos e comportamentos. Ele também deixou em aberto a possibilidade de sanções econômicas contra Israel, caso a ofensiva militar continue.

O presidente francês negou motivações internas para sua decisão e lamentou que a posição da França esteja sendo distorcida. “Isso nos entristece e nos revolta”, disse. Sobre os apelos ao boicote à participação de Israel no Festival Eurovisão da Canção , Macron declarou não ser favorável a boicotes em geral.

Virada diplomática

Diante da escalada militar de Israel em Gaza, a iniciativa francesa de reconhecer oficialmente o Estado palestino ganhou força diplomática, mas enfrenta obstáculos para se traduzir em medidas práticas. O embaixador dos EUA na França, Charles Kushner, chegou a questionar publicamente a iniciativa: “A França vai reconhecer primeiro e esperar o desarmamento depois?”, provocou em uma rede social.

Macron vê no reconhecimento da Palestina um legado diplomático e uma forma de se reconectar com a tradição universalista do Estado francês. Na segunda-feira, a França deverá se tornar o primeiro país do G7 e o primeiro membro permanente ocidental do Conselho de Segurança a reconhecer oficialmente o Estado palestino – com o Reino Unido prestes a seguir o mesmo caminho.

Embora os desafios persistam, o presidente francês aposta num “caminho irreversível para a paz”. Para o ex-embaixador Michel Duclos, a iniciativa pode se tornar um marco, comparável à oposição francesa à guerra do Iraque em 2003.

Enfrentando uma crise política interna desde julho de 2024, Macron voltou-se à diplomacia internacional como forma de consolidar seu segundo mandato. Na questão da Ucrânia, sua margem de ação depende das decisões do presidente norte-americano, Donald Trump, e da postura do republicano em relação à Rússia.

No Oriente Médio, os instrumentos franceses são ainda mais limitados. A chave, mais uma vez, está em Washington. “A iniciativa só terá efeito se conseguir envolver Trump”, afirma Duclos, lembrando que isso poderia reativar os acordos de normalização entre países árabes e Israel.

Evolução

Após os ataques do Hamas, Macron foi rápido em apoiar Israel, afirmando seu direito à autodefesa. Embora tenha mencionado a necessidade de proteger civis e reconhecido que uma paz duradoura exige um Estado palestino, sua postura inicial foi criticada por setores da opinião pública, especialmente após o agravamento da ofensiva israelense.

Com o tempo, Macron passou a pedir um cessar-fogo e endureceu o tom contra as ações israelenses. Em fevereiro de 2024, declarou que o reconhecimento da Palestina “não é tabu”. Mas por meses, as palavras não se converteram em ações.

Segundo o diplomata Gérard Araud, ex-embaixador da França nos EUA, o Palácio do Eliseu recebeu inúmeros apelos para reagir à situação em Gaza, mas se calou. Foi apenas em abril, durante um voo de volta de Al Arich – cidade egípcia onde se acumula ajuda humanitária bloqueada por Israel para os palestinos – que Macron sinalizou estar pronto para avançar com o reconhecimento da Palestina.

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