(UOL/FOLHAPRESS) – Com seus tubos perfeitos e assustadores, Teahupoo é considerada por muitos a onda mais temida -e ao mesmo tempo desejada- do planeta. E é por lá que acontece o capítulo final da temporada regular do Mundial de Surfe da WSL, com a etapa sendo realizada entre os dias 7 e 16 de agosto.
Localizada no Taiti, na Polinésia Francesa, essa joia do surfe mundial carrega uma reputação de beleza selvagem e perigo extremo. É o tipo de lugar que encanta e aterroriza surfistas em igual medida, e por bons motivos.
PARAÍSO AFIADO
A beleza de Teahupoo engana. A água é cristalina, azul-turquesa, cercada por corais e montanhas vulcânicas que compõem o cenário paradisíaco do Taiti.
Mas a natureza do fundo do mar ali transforma a experiência de surfar em algo arriscado. Isso porque a onda quebra diretamente sobre uma bancada rasa de coral afiado, o que faz com que qualquer queda se torne potencialmente perigosa -ou até fatal.
É uma transição brusca: a apenas algumas dezenas de metros da bancada, o fundo do oceano atinge mais de 300 metros de profundidade. Isso significa que as ondulações viajam milhares de quilômetros pelo Pacífico Sul sem encontrar resistência, até explodirem com força total sobre o recife, sem perder energia.
ONDA DOS SONHOS (E PESADELOS)
Teahupoo ficou conhecida internacionalmente nos anos 80, graças a bodyboarders como Mike Stewart e Ben Severson, e entrou de vez no mapa do surfe mundial em 1999, quando passou a receber etapas da elite da WSL (então ASP). Desde então, momentos memoráveis e assustadores aconteceram ali.
A onda já rendeu vitórias históricas, como a do brasileiro Bruno Santos, em 2008, quando venceu como convidado vindo das triagens. Kelly Slater, uma das maiores lendas do esporte, é o recordista de títulos no pico, com cinco vitórias. Em 2010, o havaiano Laird Hamilton surfou uma das maiores ondas já vistas no local, apelidada de “The Millennium Wave”.
Gabriel Medina também tem sua história por lá. Já foi campeão duas vezes, além de conquistar seu bronze olímpico naquelas ondas. Neste ano, no entanto, não estará presente.
Em 2000, Neco Padaratz quase se afogou após ficar preso no coral. Em 2014, Jadson André desmaiou depois de uma pancada na cabeça, entre vários outros incidentes que já aconteceram por lá.
FORÇA DAS PROFUNDEZAS
A formação geológica de Teahupoo ajuda a explicar sua força incomum. A onda começa a se formar sobre uma fossa abissal de mais de 1.400 metros de profundidade e quebra sobre apenas 50 centímetros de água em alguns pontos. Isso resulta em um tubo pesado, que parece cair de uma vez só.
A onda não apenas se move com velocidade e potência, mas também exige leitura perfeita da parede e do tempo de entrada. Um erro de posicionamento pode significar choque direto com o recife.
NO LIMITE
O nome Teahupoo, aliás, tem uma tradução simbólica: “Praia dos Crânios Quebrados”. Embora carregue um tom quase lendário, não é uma metáfora exagerada -muitos surfistas saem machucados, outros levam anos para superar o trauma de uma queda ali. Além disso, já foram registradas cinco mortes no local.
Ao mesmo tempo, é difícil encontrar um surfista profissional que não sonhe em surfar aquele tubo perfeito. É o paradoxo de Teahupoo: mágica e brutal, bela e perigosa, lendária e implacável. Um lugar onde os limites do surfe são colocados à prova.